Avança luta para punir crimes da ditadura


icone facebook icone twitter icone whatsapp icone telegram icone linkedin icone email

STF julga Anistia enquanto luta para punir crimes da ditadura avança


Recurso da OAB, que defende que tese do Supremo não atende regras internacionais, deve voltar a ser debatido hoje


O Supremo Tribunal Federal deve apreciar nesta semana o recurso apresentado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) questionando validade da Lei da Anistia. Será a primeira vez que o STF vai apreciar o tema depois da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos que, em novembro do ano passado, condenou o Brasil por não ter punido os responsáveis pelos crimes contra os direitos humanos cometidos durante a ditadura militar (1964-1985).


Ativistas e autoridades envolvidos com o assunto consideram difícil que o Supremo reconsidere a sentença de abril de 2010, na qual ratificou a validade da Lei da Anistia. Nos entanto, segundo eles, um possível revés no STF não impede a onda de iniciativas para tentar punir os responsáveis por torturas, assassinatos, sequestros e outras atrocidades cometidas durante a ditadura.


Enquanto o Supremo se debruça novamente sobre a Lei da Anistia, o Ministério Público Federal prepara ações criminais contra torturadores, o Congresso Nacional, assembleias legislativas e até câmaras municipais instalam comissões da verdade e jovens ativistas promovem “esculachos” na frente das casas ou locais de trabalho dos criminosos.


Segundo o procurador da república Ivan Marx, coordenador do grupo que tenta enquadrar juridicamente o coronel da reserva Sebastião Curió, acusado de sequestrar e assassinar pelo menos cinco integrantes da guerrilha do Araguaia, a nova linha de atuação do MPF independe da Lei da Anistia.


Em vez de questionar a lei, a ação contra Curió –que deve ser apenas a primeira de uma série em todo Brasil— usa o argumento do crime continuado já que os corpos dos guerrilheiros sequestrados nunca foram encontrados e, portanto, não há como provar que eles estão mortos. E mesmo que as mortes sejam confirmadas, os responsáveis continuam cometendo o crime de ocultação de cadáver.

“Com uma revisão da Lei da Anistia pelo Supremo poderíamos incluir outros crimes como tortura e assassinatos. Em relação aos crimes continuados não muda nada”, disse ele.


Segundo Ivan Marx, enquanto não houver uma revogação judicial da Lei de Anistia o Brasil continuará desrespeitando a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos. “Não sendo aceito o recurso da OAB o Brasil segue em situação de permanente violação”, disse o procurador.


Na sentença, a Corte da OEA determina que o Brasil crie uma comissão nacional da verdade, garanta o acesso de familiares à informação, forneça educação sobre direitos humanos aos integrantes das Forças Armadas e puna criminalmente os responsáveis.

Não sendo aceito o recurso da OAB o Brasil segue em situação de permanente violação”, diz procurador.


A comissão da verdade foi aprovada no ano passado pelo Congresso e aguarda a nomeação dos integrantes pela presidenta Dilma Rousseff. No rastro da decisão nacional, a Assembleia Legislativa de São Paulo á instalou sua própria comissão e deve ser seguida por outros estados. Na semana que vem o presidente da comissão paulista, Adriano Diogo (PT), vai ao Espírito Santo para ajudar na criação da comissão capixaba. “A Alesp abriu as portas para iniciativas semelhantes em todo o Brasil. Soube que serão instaladas comissões no Rio Grande do Sul, Pernambuco e até em Bauru (interior de SP)”, disse ele.


Enquanto isso, jovens ativistas de organizações como a Consulta Popular decidiram agir por conta própria denunciando torturadores nas portas de suas casas ou locais de trabalho. As manifestações chamadas “esculachos” têm como referência a ação de jovens da Argentina e Chile, onde os crimes políticos estão sendo punidos.


Para o secretário nacional de Direitos Humanos Paulo Vannuchi, dificilmente o STF mudará de opinião quanto à Lei da Anistia se não houver uma pressão popular. “Não tenho como antecipar a decisão do Supremo e sou dos que torcem para que a Lei da Anistia seja revista o quanto antes. Mas sempre entendi que a estratégia mais consciente é em longo e médio prazo para conseguir o que já conseguimos e termos um amplo debate na sociedade. O Supremo não vai decidir a frio”, avaliou Vannuchi.


Escrito por: Ricardo Galhardo, iG São Paulo

« Voltar