Redução de salário pode agravar ainda mais o desemprego e a crise


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A proposta da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) de reduzir a jornada de trabalho e o salário dos funcionários para evitar demissões pode ter um efeito inverso, segundo especialistas. De acordo com o professor do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade de Campinas (Unicamp) Cláudio Dedecca, a medida sugerida pela Fiesp é “prematura” e “corporativista”.

“Ao invés de favorecer, ela pode gerar a redução do emprego porque acordos que diminuam o trabalho e a renda implicarão na redução do nível de consumo dos trabalhadores. Com isso, o nível de produção também será afetado”, considera, explicando que os setores mais prejudicados devem ser o de alimentação e vestuário. “O grande desafio nosso não é buscar medidas de compensação, mas sim medidas que não permitam o aumento do desemprego”, acrescenta.

Para o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Márcio Pochmann, este tipo de “acordo de flexibilização” pode acirrar ainda mais a competição por uma vaga no mercado de trabalho. “O trabalhador acostumado a ter determinado salário não vai aceitar a redução porque já tem despesas compatíveis com ele.
Ele vai procurar um trabalho adicional ou que alguém de sua família comece a trabalhar para recuperar a renda perdida”, afirma. “Com mais pessoas procurando emprego, a taxa de salário cai”, completa.

A redução de até 25% na jornada de trabalho e nos salários mediante acordo coletivo (negociação entre sindicatos de trabalhadores e empresa) ou convenção coletiva (conciliação entre sindicato patronal e sindicato de trabalhadores) foi proposta pela Fiesp no dia 14/01. O encontro reuniu representantes de 17 grandes empresas do País, entre elas Vale, Fiat, Siemens, Telefônica, Embraer e AmBev, para discutir medidas de combate ao desemprego.

O Ministério do Trabalho divulgou que o País perdeu 654.946 postos de trabalho em dezembro último. Os dados fazem parte do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que de janeiro a outubro de 2008 registrou apenas saldos positivos. Em novembro, a perda foi de 40.821 vagas.
Mesmo com a redução nas contratações formais nos últimos meses, o saldo de 2008 foi positivo, com a criação de 1.452.204 vagas. Em 2007, foram criados 1.617.392 empregos formais.

Para Pochmann, o último trimestre de 2008 sofreu o impacto da elevação na taxa de juros no início do ano e isso refletiu no trabalho. “A elevação dos juros não provoca desaceleração de forma imediata. Ela leva de seis a sete meses. Além disso, tivemos a crise, com quedas nas bolsas e ações de empresas”, explica.

Segundo ele, a crise “contaminou o cenário financeiro”, mas não refletiu imediatamente na produção. “Os sinais maiores serão neste início de ano porque já temos a desaceleração sazonal da atividade econômica”, afirma, referindo-se à queda normal no número de contratações por causa do período de férias coletivas de empresas.

Otimista, o professor Dedecca considera que se a economia brasileira crescer 3% em 2009 as condições de emprego atuais serão mantidas. “O resultado final deste ano depende fundamentalmente das medidas que o governo adotar. Agora, se a desaceleração for além de 3% é inevitável o agravamento das condições”, diz. Nas medidas, o economista inclui a redução da taxa de juros e o aumento dos investimentos em infra-estrutura.

Segundo ele, o governo ainda está “muito preso” às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Em 2009, o governo deveria ampliar os investimentos, principalmente, nas áreas em que eles podem ser feitos com mais rapidez, como saneamento básico”, opina.

Para que isso aconteça, Dedecca considera ser imprescindível uma queda na taxa básica de juros, que hoje está em 13,75%. “Obviamente, não podemos reduzir em uma tacada só, mas seria de bom tom trazer para 10% no primeiro trimestre e buscar mais reduções ao longo do primeiro semestre”. (Lecticia Maggi, repórter do Último Segundo)

Fonte: https://ultimosegundo.ig.com.br/economia - 20/01/2009

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