5ª Marcha da Consciência Negra: “Os 120 anos de abolição inacabada”


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A CUT participa neste mês de novembro de várias manifestações por todo o Brasil ao lado de outras entidades do movimento social contra a discriminação racial. Em São Paulo, será realizada na quinta-feira, dia 20, a 5ª edição da Marcha da Consciência Negra que terá como tema "Os 120 Anos de Abolição Inacaba". O ato constitui a indignação e o protesto às condições subumanas ainda impostas aos negros e negras.

"A Marcha é uma forma de ampliar para a sociedade o debate sobre a questão racial no Brasil e simboliza a luta dos movimentos sociais organizados contra a discriminação, em defesa de igualdade de oportunidades, por políticas afirmativas entre outras bandeiras históricas do movimento negro", destaca Marcos Benedito, coordenador da Comissão Nacional contra a Discriminação Racial da CUT.

A mobilização por uma marcha do movimento negro teve seu primeiro ato em 1995, nos 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares. A manifestação teve como grande palco Brasília e contou com a participação de mais de 30 mil pessoas. O principal objetivo era ampliar o debate sobre o racismo e fazer um protesto contra as péssimas condições em que vive a maior parte da população negra.

Já em 2004, com o movimento bem articulado, criou-se a primeira Marcha da Consciência Negra que aconteceu em algumas capitais brasileiras e foi uma preparação para a Marcha do ano seguinte.

O ano de 2005 foi uma data especial. O 20 de novembro marcava os 310 anos da morte de Zumbi dos Palmares. Em homenagem ao grande líder de resistência a escravidão foi convocada uma imensa mobilização em Brasília com o seguinte slogan: "Contra o racismo, pela Igualdade e a Vida".

A caminhada foi inspirada na Marcha sobre Washington, realizada por Martin Luther King, nos Estados Unidos, na década de 60. A capital ficou repleta de integrantes de diversas organizações negras de todo o Brasil que marcharam até a Esplanada, além de organizarem uma série de atividades e apresentações culturais.

A Marcha influenciou os rumos da luta contra o racismo em nosso país. Nos anos seguintes o movimento negro se mostrou mais fortalecido e a questão racial passou a ser vista como um dos impasses nacionais a serem solucionados para a construção de um Brasil mais justo.

No movimento sindical, a questão racial vem obtendo avanços. "Este debate tem se ampliado nas instâncias da CUT, a exemplo de nossa 12ª Plenária Nacional, onde aprovamos a criação da Comissão Nacional contra a Discriminação Racial da CUT", enfatiza Artur Henrique, presidente da CUT Nacional.

20 de novembro: Dia Nacional da Consciência Negra

Chegamos ao século 21, um período marcado pelas transformações. As tecnologias evoluíram de um modo, que estão superando o ser humano. Mas uma coisa que ainda não evolui foi o pensamento de alguns setores sociais que convalidam com a discriminação de raça, cor ou origem. Não podemos aceitar que numa sociedade que se diz tão evoluída ainda haja este tipo de preconceito.

Esta reflexão nos leva a pensar no dia 13 de maio de 1888, quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, libertando os negros e abolindo de vez a escravidão no Brasil. A partir daquele momento, na prática, todos estariam livres. Porém, após o período escravagista, os negros não tinham emprego, não tinham o que comer, onde morar. Os senhores feudais começaram a importar mão-de-obra estrangeira para ocupar os seus lugares. Havia uma distinção entre negros e brancos. Sem renda e sem lugar para ficar, o movimento escravo se unificou para mostrar que como os brancos, eles também tinham as mesmas forças e condições.

Passados 120 anos, ainda temos de conviver com situações discriminatórias. Um exemplo claro foram às últimas eleições nos Estados Unidos. De um lado, Barack Obama, de origem africana, e do outro, John McCain, um estereotipado americano. Obama precisou lutar primeiramente contra o racismo enraizado na cultura norte-americana, de não aceitar um negro como o chefe central de seu país.

Aos poucos ele foi mostrando ao povo que o que estava em jogo não era a cor ou a origem da qual ele procedia, mas sim, a prosperação de um país em crise. Com competência e dignidade ele venceu as eleições com ampla aceitação da população e se tornou o primeiro presidente negro na história dos Estados Unidos.

No Brasil, o que há hoje é um racismo de caráter ideológico, muitas vezes não assumido, que apesar da decisiva contribuição dos africanos para a nossa identidade nacional, procura esquecer as origens associando a imagem do negro a condições de inferioridade.
Esse é um dos aspectos que serão abordados neste dia 20 de novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra
, data em que as organizações do Movimento Negro estarão unidas nas ruas na luta por: inclusão e melhores condições de trabalho para os negros e negras; titulação das terras das Comunidades Quilombolas; democratização do acesso da juventude negra à universidade pública; aprovação do Estatuto da Igualdade Racial; melhor distribuição de renda; acesso à saúde e educação com qualidade; respeito às religiões de matrizes africanas; contra o racismo, o machismo e a homofobia.

Mas apesar de ser uma data comemorada nas principais capitais, uma questão que precisa ser discutida é o porquê não ser uma data de caráter nacional. Atualmente, 225 municípios brasileiros adotaram a data como feriado, de um total de 5.561 municípios do país, segundo levantamento da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Essa disparidade é mais uma das batalhas que o Movimento Negro trava para regulamentar essa data como feriado nacional.

Outra grande luta é em relação à aprovação do Estatuto de Igualdade Racial, parado no Congresso desde 1998. O estatuto aborda ações e medidas especiais que tem como objetivo desenvolver políticas públicas com viabilidade orçamentária para concretizar condições para a inclusão social da população negra. Ele reúne as reivindicações das diversas entidades negras com as mais diferentes atuações nos últimos anos.

Este 20 de novembro é uma grande oportunidade para as lideranças do movimento negro se unirem em uma ação conjunta para cobrar uma maior agilidade junto aos parlamentares. "O Estatuto da Igualdade Racial representa um grande avanço, pois este é uma ferramenta legal na busca da Cidadania Plena para todos os afro-descendentes brasileiros", ressalta Marcos Benedito.

Instituição do dia 20

A história do dia 20 de novembro se confunde com a data da Abolição dos escravos. Ela foi criada em homenagem a Zumbi, grande líder dos Quilombos dos Palmares e símbolo da resistência contra a escravidão. Em 20 de novembro 1971, o Grupo Palmares de Porto Alegre (RS), realizou o primeiro ato público da história do Brasil em homenagem a Zumbi.

O Núcleo Negro Socialista propunha sair às ruas nesta data porque avaliava que o 13 de Maio era uma data simbólica para população negra que ainda acreditava na "generosidade" da princesa Isabel e no mito democracia racial, e exatamente por estes motivos era necessário reconstruir essa história através de uma visão crítica sobre o que fora a Abolição da Escravatura.

Foi assim que o dia 13 de maio entrou no calendário de luta como o Dia Nacional de denúncia contra o Racismo. Enquanto o 20 de novembro foi instituído como o Dia Nacional da Consciência Negra. A data foi assumida pelo Movimento Negro Unificado em 1978 e a partir daí passou a ser comemorada por todas as organizações negras como a data mais importante da população brasileira.

Zumbi dos Palmares

Quilombo dos Palmares, fundado no ano de 1597, foi um grande local de abrigo para os negros refugiados da época. Alguns anos após a sua fundação, ele foi invadido por uma expedição bandeirante e muitos dos seus habitantes, inclusive crianças, foram mortos. Um recém-nascido foi levado pelos invasores e entregue como presente a Antônio Melo, um padre da vila de Recife.

O menino foi batizado pelo padre com o nome de Francisco, que além de criá-lo, ensinava a leitura e a escrita. O convívio com o religioso fez o garoto aprender os assuntos bíblicos e aos 12 anos já se tornará coroinha. Entretanto, a população local não aprovava a atitude do padre, que criava um negro como filho, e não como servo.

Apesar do carinho que sentia pelo seu pai adotivo, Francisco não se conformava em ser tratado de forma diferente por causa de sua cor. Indignado com a violência praticada contra os escravos nos engenhos e praças públicas, ao completar 15 anos, resolveu se unir ao seu povo na luta por melhores condições de vida.

Caminhou cerca de 132 quilômetros para chegar a Serra da Barriga, sede administrativa do Quilombo. Como era de costume na cultura quilombola, recebeu uma família e um novo nome. Agora, Francisco era Zumbi. Com os conhecimentos repassados pelo padre, Zumbi logo superou seus irmãos em inteligência e bravura. Aos 17 anos tornou-se um segundo líder, já que nessa época o Quilombo era chefiado por Ganga Zumba,

Após a morte de Ganga Zumba, Zumbi assumiu o posto de grande líder dos Palmares e levou a luta pela liberdade até o final de seus dias. Em 1692 derrota a expedição comandada por Domingos Jorge Velho. Dois anos mais tarde acaba cedendo diante dos novos ataques e foge, mas continua a resistência contra os brancos.

Contudo, em 20 de novembro de 1695, Zumbi foi traído por um de seus principais comandantes, Antônio Soares, que trocou sua liberdade pela revelação do esconderijo. Zumbi foi torturado e morto. A sua história fica de lição para a população negra, que não se pode desistir de lutar pelos direitos igualitários a todos. Devemos fazer como o rei Zumbi: Lutar contra todo e qualquer tipo de discriminação, seja ela qual for.

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