Avícola americana massacra trabalhadores no Mato Grosso do Sul


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Os 1.500 trabalhadores da sala de cortes do frigorífico avícola da Seara/Cargill em Sidrolândia, no interior do Mato Grosso do Sul, encontram-se paralisados desde as 16 horas de segunda passada, 10/11, contra a política de arrocho salarial e ilegalidade da multinacional norte-americana.
De acordo com Claudinei Reginaldo dos Santos, diretor de Finanças do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Sindaves) de Sidrolândia, a absurda e abusiva proposta apresentada pela empresa foi rechaçada em duas assembléias massivas da categoria.

“Ofereceram um reajuste inferior à inflação e um adicional de insalubridade menor do que o determinado pela legislação. O próprio Ministério Público já havia advertido que qualquer adicional de insalubridade negociado abaixo de 20% redundaria em multa de R$ 30.000,00 para a empresa, por ser flagrantemente ilegal diante das perícias realizadas”, informou.
Os trabalhadores reivindicam a reposição da inflação e 3% de aumento real, totalizando 10,25% de reajuste salarial aos cerca de 2.600 trabalhadores da unidade.
“A Seara/Cargill mobilizou um contingente enorme de policiais militares, 200 seguranças particulares e até cinegrafistas para tentar intimidar os manifestantes, que aderiram pacificamente ao protesto. Além da truculência, estão intimidando o trabalhador, mandando veículos até suas casas, desrespeitando o seu período de descanso e expondo a sua saúde a riscos”, acrescentou Claudinei.

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Alimentação (Contac/CUT) e coordenador do Instituto Nacional de Saúde do Trabalho, Siderlei de Oliveira, lembra que “as práticas anti-sindicais e criminosas da Cargill em Sidrolândia ficaram tristemente conhecidas e reconhecidas, nacional e internacionalmente, após a morte de Marcos Antônio Pedro, símbolo da luta contra a desumanização do trabalho e a política do lucro a qualquer custo”.


A tragédia de Marcos
De origem indígena, 29 anos, Marcos morreu quando caiu dentro do tanque de resfriamento de frangos (chiller) no dia 28 de março de 2007, ao escorregar enquanto fazia uma limpeza rotineira de resíduos. Como não havia proteção, e a higienização até então era feita com a máquina em movimento, o trabalhador foi sugado pela espiral (caracol) que puxa as aves para a água.

“Quando os mecânicos chegaram, queriam cortar o tanque e tirá-lo por baixo, mas, ao invés disso, o controle de qualidade da empresa determinou que se invertesse o movimento de rotação das espirais. Não deu certo e ele foi praticamente cortado ao meio”, lembra Clodoaldo Alves, vice-presidente do Sindaves. No momento em que as espirais puxaram o trabalhador para baixo, Marcos foi fatiado vivo, cortando nervos e a coluna. Uma jovem presenciou tudo, ouviu os terríveis gritos de socorro. Marcos teve ainda a cabeça prensada.

Após a tragédia, informa Clodoaldo, “tudo foi inteiramente modificado pela empresa na noite do acidente. Diminuíram a altura das plataformas próximas ao chiller, pois antes você batia a cabeça, tinha de andar curvado, ficando bem na borda do tanque, sem a mínima segurança. Esse desnível acentuado favoreceu a queda de Marcos. Também colocaram chapas de proteção de inox em volta do chiller, um item de segurança que nunca existiu. Além disso, agora a higienização está sendo feita com a máquina desligada, colocaram sensores, baixaram a tubulação para ler os hidrômetros que ficavam lá em cima perto das bordas do pré-chiller e o local ficou completamente isolado”.

De acordo com Sérgio Bolzan, da executiva da Federação dos Trabalhadores da Alimentação do Mato Grosso do Sul e presidente do Sindaves, “houve então uma adulteração da cena do crime, pois quando os fiscais do Ministério do Trabalho chegaram para inspecionar já haviam sido feitas as modificações de segurança na plataforma e na máquina”.

Soma-se ao abuso, a tentativa de transformarem a vítima em culpado. Está nos autos do Poder Judiciário Federal, da Justiça do Trabalho de Santa Catarina, 4ª Vara de Criciúma, onde há outra unidade da Seara/Cargill: o doutor Washington Antonio Telles de Freitas Júnior, OAB/SP nº 75.455, “procurador da ré”, Seara/Cargill, “disse que o acidente ocorrido em Sidrolândia – MS, com o trabalhador Marcos Antonio Pedro foi decorrente de suicídio”. Esclareceu ainda que não estava “prestando depoimento”.
Infelizmente, as denúncias se multiplicam, como a demissão de gestantes e funcionários lesionados pela intensidade do ritmo de trabalho, entre outros abusos.

Leonardo@cut.org.br - www.cut.org.br - 11/11/2008

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