Forças Armadas prometem ajudar no combate à dengue


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O Ministério da Defesa anunciou a montagem de hospitais de campanha para auxiliar no atendimento aos doentes. Número de casos no estado já passa dos 32 mil este ano, com 49 vítimas fatais, sendo 25 crianças. Autoridades não se entendem quanto às responsabilidades pela epidemia. (Maurício Thuswohl - Carta Maior)

RIO DE JANEIRO – Durante o feriadão de Páscoa, o avanço da epidemia de dengue no Rio de Janeiro atingiu a tenebrosa marca de uma ocorrência da doença registrada por minuto. Na Semana Santa, as mortes de uma menina de 14 anos e de um bebê de sete meses elevaram para 49 o número de vítimas fatais no estado este ano, sendo 25 crianças. Diante desse quadro desolador, antes tarde do que nunca, as autoridades públicas parecem ter despertado para a necessidade de combater urgentemente o mosquito transmissor e prestar atendimento à população carioca de baixa renda, que sofre por falta de atendimento nos hospitais públicos.

Após alguns dias de um constrangedor empurra-empurra entre os poderes municipal, estadual e federal, o Ministério da Defesa anunciou na sexta-feira (21) que as Forças Armadas montarão, a partir da semana que vem, hospitais de campanha para ajudar os hospitais da rede pública do Rio no atendimento às vítimas do Aedes aegypti. A situação é grave, pois a dengue já ocorre em todas as regiões da cidade do Rio de Janeiro e em diversos municípios do interior fluminense. Na capital, já foram registrados 23.555 casos da doença em 2008 e, levando-se em conta todo o estado, o número de casos registrados sobe para 32.615.

A ajuda das Forças Armadas no combate à dengue no Rio de Janeiro foi confirmada pelo ministro Nélson Jobim, que se encontra em visita oficial aos Estados Unidos: “Estamos preparados para ajudar, pois esse problema está sério lá no Rio”, disse. Para definir os detalhes da participação militar, Jobim tem uma reunião agendada para terça-feira (25) com o chefe do Estado-Maior de Defesa, almirante Marcos Martins Torres, e com os comandantes Enzo Peri (Exército), Júlio Moura Neto (Marinha) e Juniti Saito (Aeronáutica). Após a definição com o comando militar, o ministro se reunirá com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Ministério da Saúde, por sua vez, anunciou que vai montar no Rio um gabinete de crise que contará com as participações do comando das Forças Armadas e das autoridades públicas estaduais. As primeiras tarefas do gabinete, segundo o ministério, serão a realização de um levantamento, em todo o estado, da necessidade de contratação de pessoal para trabalhar em caráter emergencial e também um mapeamento das populações com maior risco de contato com o mosquito transmissor.

O pedido de ajuda federal havia sido feito no dia 17 de março pelo secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, durante uma reunião com o secretário nacional de Vigilância e Saúde, Gérson Penna, e com representantes das Forças Armadas. Curiosamente, Côrtes afirmou ter sido pego de surpresa pelo anúncio do envio de militares ao estado: “Não me comunicaram nada, mas, em todo caso, a ajuda é extremamente bem-vinda. A maior necessidade é material humano para fazer o atendimento aos doentes e também intensificar o combate aos focos do mosquito”, disse o secretário.

Empurra-empurra

A falta de sintonia entre os três níveis de poder público é mais clara do que as águas onde o Aedes costuma depositar seus ovos. Após ter anunciado inicialmente que “não tomaria medidas específicas em relação à dengue no Rio”, o Ministério da Saúde voltou atrás e decidiu instalar o gabinete de crise, mas não deixou de apontar a Prefeitura do Rio como principal responsável pelo combate à doença: “Consideramos que um dos problemas enfrentados no Rio é a baixa implementação das equipes de saúde da família e a desestruturação da atenção básica. Atualmente, as equipes de saúde da família cobrem apenas 8% da população do município”, afirma uma nota divulgada pelo ministério.

Em outro trecho da nota, o Ministério da Saúde lembra que, em outubro do ano passado, alertou o governo estadual e a prefeitura da capital sobre a possibilidade de ocorrência de uma epidemia de dengue durante o verão: “No mês seguinte, um levantamento da infestação dos mosquitos transmissores na cidade mostrou que ações mais objetivas deveriam ser realizadas pelo gestor local, pois o quadro era alarmante”, diz o documento.

O prefeito Cesar Maia, no entanto, prefere negar que esteja ocorrendo uma epidemia de dengue no Rio: “Já houve uma epidemia, mas o momento atual é de declínio”, garante, dizendo embasar sua afirmação nas correções por amostra feitas pela Secretaria Municipal de Saúde: “Sabemos que o pico da doença ocorreu entre o fim de janeiro e o início de fevereiro. Nesse momento, estamos em curva declinante, mas só poderemos confirmar isso dentro de alguns dias”, disse. Quando o assunto é assumir responsabilidades pelo avanço da doença, Cesar opta por jogar a batata quente em outras mãos: “A maior parte dos óbitos ocorreu em hospitais da rede estadual”.

OMS aponta epidemia

A postura da Prefeitura é criticada pelo epidemiologista Roberto Medronho, que tem especialização no estudo da dengue e é professor do Núcleo de Saúde Coletiva da UFRJ. Segundo Medronho, a Secretaria Municipal de Saúde está equivocada ao considerar que, para ser classificada como epidemia, a incidência da dengue deva ser ao menos de 470 para cada cem mil habitantes. O especialista afirma que o governo municipal utiliza como parâmetro para seus cálculos o ano de 2002, quando foram registrados 138.027 casos de dengue no Rio: “Isso contraria uma determinação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que afirma que o cálculo deve ser feito com base numa série histórica, excluindo os anos em que ocorreram epidemias”.

Medronho afirma que, de acordo com os parâmetros de cálculo estabelecidos pela OMS, o máximo de casos esperados para janeiro no Rio seria de 23,3 por cada cem mil habitantes quando, na realidade, foi de 144,5 por cem mil. Em fevereiro, o máximo esperado era de 42,95 casos por cada cem mil habitantes, mas ocorreram 158,2 casos para cada cem mil. Em março, a taxa de infecção esperada é de 75 habitantes para cada cem mil, mas atingiu a marca de 43,3 para cada cem mil apenas nas primeiras duas semanas do mês.

Fonte: www.cartamaior.com.br – 22/03/2008

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