Inflação puxada por alimentos prejudica população de baixa renda


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Em 2007, alta do preço dos alimentos atingiu, principalmente, as camadas pobres, que teve seu custo de vida elevado em 5,55%; população em geral acumulou alta de 4,80%. (Eduardo Sales, da Redação do Jornal Brasil de Fato)

Se os lucros dos bancos e da indústria cresceram em 2007, a renda dos trabalhadores assalariados não apresentou a mesma prosperidade. De acordo com duas pesquisas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o aumento do preço dos alimentos que compõem a cesta básica foi superior ao reajuste do salário mínimo, mesmo em um ano em que a economia brasileira registrou uma das maiores expansões nos últimos anos.


Segundo o órgão, em 2007, o custo de vida no município de São Paulo acumulou alta de 4,80%, a maior desde 2004 (7,70%). Entre os variados grupos de despesas avaliados, o setor de alimentação acusou uma taxa de 12,48%, o maior dentre os outros subgrupos analisados como educação e leitura (6,27%), despesas pessoais(6,11%), saúde (3,40%), habitação (1,65%) e transporte(1,03%).

O Dieese aponta que o custo subiu mais (5,55%) para as famílias mais pobres. Para o técnico e economista do Dieese, José Maurício Soares, a inflação para os mais pobres foi maior e corroeu parte do aumento da renda dos assalariados. “Para a baixa renda, o peso dos alimentos é muito maior, por isso sofrerão mais”, concorda o economista da Universidade Estadual de Campinas ( Unicamp), Pedro Ramos.

Hoje, o preço da cesta básica no município de São Paulo corresponde a 51,95% do valor do salário mínimo, de acordo com dados do Dieese. Em 1959, eram necessárias 65 horas de trabalho para comprar os alimentos da cesta básica. Em 2007, esse número quase dobrou, passando para 114 horas.

Segundo cálculo realizado pelo Dieese, com base no valor da cesta básica paulistana, o salário mínimo deveria corresponder a R$ 1.803,11 em dezembro para suprir todas as despesas básicas de um trabalhador e sua família, dentro do que diz a Constituição.

Especulação agrária
O aumento geral da cesta básica em 2007 chegou a quase 25% em algumas capitais brasileiras. O menor aumento foi verificado em Curitiba (11,46%) e o maior em Aracaju (24,38%). Em São Paulo, a cesta básica subiu 17,90% durante 2007. A capital paulista terminou o ano com o preço da cesta básica mais cara do país (R$ 214,63).


“O preço em São Paulo pode ter crescido muito em função do desalojamento de outras culturas”, analisa o economista Pedro Ramos. Ele pondera que “o aumento do preço dos alimentos indica essa tendência; não é balela como alguns falaram apressadamente”.


Por isso, segundo Pedro Ramos, é preciso considerar dois aspectos, a conjuntura interna e a tendência da especulação de terras em função da produção dos agrocombustíveis. “Os fatores conjunturais, como a expansão da demanda devido ao final de ano com maior renda dos trabalhadores e até mesmo o oportunismo da estrutura de comercialização, são menos importantes, pois não têm impactos maiores”, explica Ramos.


O segundo aspecto é o mais preocupante segundo o economista, pois reflete os sinais do impacto das ofertas de produtos agropecuários em função da produção da biomassa, como a soja e o milho. “Alguns produtos passamos a exportar mais, como soja e milho. Houve maior demanda externa. Isso vem causando maior impacto em outros produtos agropecuários, como rações para gado, o que encarece toda a cadeia produtiva”, analisa. Um saco de farelo de trigo, utilizado para alimentar o gado, custava R$ 11 no final de 2007. “No início de 2008, a mesma quantidade de farelo chega a R$ 17", exemplifica o economista.

Outras altas

Em 2007, o feijão foi o produto que apresentou a maior alta de preços , as maiores altas nas 16 capitais pesquisadas pelo departamento. Chegou a subir 224,84% em Natal (222,84%), 214,25% em Fortaleza e 199,04% em Goiânia. “O fator climático foi o responsável por este comportamento, pois a terceira safra, colhida normalmente por volta de julho/agosto, foi praticamente perdida devido à forte seca”, diz o Dieese.


Já a carne bovina teve, em Belém, 36,64% de aumento. O leite chegou a registrar elevação de 37,16%, em Salvador. Segundo o Dieese, essa alta em relação ao dois produtos é fruto, além da seca que prolongou o período da entressafra, também da crescente demanda internacional e das festas de final de ano.


Fortaleza apresentou a maior variação do preço do café (28,21%) e do óleo de soja (46,59%). “Os preços desse item vêm subindo mês a mês, como conseqüência do preço da soja no mercado internacional e da forte demanda da China”, comunicado o Dieese. O aumento no preço do pão verificou-se em 14 capitais, com destaque para Salvador (24,30%). Sem entrar nesse caldo, o tomate foi o produto que mais ajudou a segurar a alta do custo da cesta básica, registrando retração em 16 capitais.

Fonte: www.brasildefato.com.br – 11/01/2008

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