Quem ganha e quem perde com decisão do STF sobre mensalão


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Apesar dos festejos da direita e dos prejuízos para as esquerdas, ainda bem que o Supremo acolheu a denúncia. Porque assim, agora, vai chegar a hora da prova provada. A menos que os ministros do Supremo aceitem manchete como indício ou até como prova, o que não dá para acreditar. (Flávio Aguiar - Carta Maior)

SÃO PAULO - No julgamento do julgamento do STF, há uma surda luta de bastidor nas manchetes: a mídia se sente acusada de “conspiração” contra Lula, e quer se absolver. Para isso, é preciso anunciar e condenar de antemão a “quadrilha” que haveria no governo e no seu entorno.

Indício não é prova; mas pouco importa. Noves fora, fica a sensação de que na mídia os réus, por serem réus, estão sempre condenados de antemão. Há um ar de alívio nos comentários e manchetes com que a mídia conservadora saudou a acolhida das denúncias do Procurador da República contra os 40 apontados pelo inquérito sobre o suposto “mensalão”. Provas não há. Pelo menos ainda.

Ao acolher a denúncia, pela sua gravidade, o Supremo Tribunal Federal desempenhou sua função republicana. Uma denúncia dessas tem que ser apurada, e provada. Caso contrário, quem cai em descrédito é o acusador. Mas vários comentários na mídia ressaltaram que a acolhida por parte do Supremo absolvia a ela própria da “acusação” de ter armado uma “conspiração” contra o governo.

Conspiração nunca houve. Do mesmo modo, parece que a acusação mais difícil de ser provada vai ser a da formação de quadrilha. Até mesmo porque a prova dessa acusação exigiria que se demonstrasse haver uma concatenação e uma organização que o governo e o próprio PT nunca tiveram capacidade de desenvolver.

Para haver conspiração é necessário reuniões, encontros, cessão de espaço (como em 54 Roberto Marinho fez no Globo em relação a Carlos Lacerda, da Tribuna da Imprensa, para que ele atacasse Getúlio). Já imaginaram os colunistas e editorialistas dos principais jornais e tevês do país se reunindo para abrir espaços uns para os outros e concatenar ações hoje em dia?

Mas isso não quer dizer que não tenha havido campanha. Essa houve, até porque hoje em dia nada mais parecido com um jornal brasileiro do que o outro jornal brasileiro. E isso não quer dizer também que as CPIs não tenham se transformado em espetáculos algo vergonhosos de estrelismo por causa do clima eleitoral do ano passado.

A tal ponto que o próprio instrumento “CPI” saiu desgastado dos episódios. E um grande número de comentaristas e editorialistas, e editores e capistas, e chefes de tevê, etc. fez de fato uma campanha, não orquestrada, mas uníssona, contra o governo com base nas acusações das CPIs e em outros instrumentos amplamente divulgados pela internet.

Por vezes com resultados constrangedores para os jornais e tevês, como no episódio das fotos do dinheiro aprendido com petistas que iriam comprar um dossiê. Houve também arrochos e ajustes de contas dentro das redações, coisa amplamente analisada e divulgada aqui na Carta Maior (ler artigos de Bia Barbosa: "Repórter da TV Globo denuncia parcialidade na cobertura das eleições de 2006", "População critica cobertura; Globo faz abaixo-assinado pra se defender").

Isso também não quer dizer que membros do governo e do Partido dos Trabalhadores não tenham cometido erros e imprudências que alimentaram essas campanhas movidas a ódio pela esquerda e desprezo pelo presidente eleito e reeleito pelo povão que desprezou os “formadores de opinião”.

Se houve crimes, o Procurador que procure e prove. Apesar dos festejos da direita e dos prejuízos para as esquerdas, ainda bem que o Supremo acolheu a denúncia. Porque assim, agora, vai chegar a hora da prova provada. A menos que os ministros do Supremo aceitem manchete como indício ou até como prova, o que não dá para acreditar. Mas dá para ler nas próprias manchetes.

Fonte: www.cartamaior.com.br – 29/08/2007

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