Propaganda de alimentos gordurosos aumenta obesidade infantil
O estudo traçou o perfil consumidor de 816 famílias que têm filhos entre 7 e 14 anos matriculados em escolas municipais e estaduais da cidade. São pais que ganham um salário mínimo, não têm o primeiro grau completo e não planejam as compras. "Compram porque viram na televisão", explica a pesquisadora.
Ao mesmo tempo em que traçou os hábitos de compras da família, o estudo também determinou a quantidade de propaganda de alimentos gordurosos veiculada nas três emissoras de mais audiência e os hábitos alimentares das crianças. Foram gravadas 640 horas de programação, entre 1998 e 2000, e todos os comerciais exibidos classificados em 15 categorias, de acordo com o tipo de produto.
Cerca de 27% da propaganda exibida era de alimentos. Desse total, 57% vendia produtos como refrigerantes, achocolatados, bolachas recheadas e salgadinhos. Não havia propagandas de frutas ou verduras.
Em relação à dieta, a pesquisa concluiu, depois de avaliar questionários respondidos pelos pais, que as crianças comiam arroz, feijão e salada, mas também muitos alimentos gordurosos ou cheios de açúcar.
"A televisão pode, sim, ser considerada um fator ambiental que contribui para o aumento da obesidade. Ela tem recursos que podem estar promovendo hábitos alimentares inadequados e que isso vem desde muito pequeno", conclui Dantas.
Segundo a pesquisa --tese de doutorado da psicóloga, defendida em fevereiro deste ano--, 24% dos estudantes avaliados têm sobrepeso ou obesidade. "É um índice alto. Nos Estados Unidos, são 30%", avalia.
Regulamentação
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estuda regulamentar a exibição de propaganda de alimentos calóricos na televisão. Desde novembro de 2006 está aberta a consulta pública 71, no site da agência.
Qualquer pessoa pode ler e opinar sobre o texto, que restringe a propaganda na televisão dos alimentos gordurosos entre as 21h e as 6h, além de vetar a promoção dos alimentos nas escolas. Depois da consulta, que termina em 1º de abril, o texto pode virar uma resolução.
Procurado pela reportagem, o Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária), preferiu não se manifestar sobre o estudo, mas segundo a assessoria de imprensa, o órgão tem regras próprias para o assunto.
As "Novas Normas Éticas Para a Publicidade de Alimentos e Refrigerantes" dizem que "A publicidade de produtos alimentícios dirigidos a crianças não deve utilizar-se de estímulos imperativos, especialmente se apresentados por pais e professores, salvo em campanhas educativas. A publicidade de produtos alimentícios destinados a crianças receberá a interpretação mais restritiva."
Fonte: www.folha.com.br – 27/03/2007 - Renato Santiago, da Folha Online