Michael Lowy - Outras vitórias virão na Franca


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O movimento de luta contra o Contrato de Primeiro Emprego (CPE), vitorioso, vai ter impactos profundos na sociedade francesa. A avaliação é do sociólogo franco-brasileiro Michael Löwy, entrevistado pelo Brasil de Fato, quando participava de manifestação em Paris, no dia 11. Para ele, os protestos, recorrentes durante 2 meses e meio, politizaram uma geração de jovens e trabalhadores, além de reforçarem a união de grupos sociais outrora dispersos.

Brasil de Fato - Qual o impacto da vitória dos movimentos?

Michael Löwy - A vitória é muito importante, no mesmo estilo da que os franceses conquistaram em 1995, quando ocorreram greves contra a flexibilização das leis trabalhistas. Obrigamos o governo a recuar. Demonstramos que a luta traz resultados, e isso tem um impacto pedagógico claro, até mesmo quando o governo é dos mais reacionários. A vitória é parcial, entretanto, pois há muitas leis que implementam a precariedade no emprego. A luta vai continuar, de outra maneira.

BF - Os laços que se criaram entre as organizações podem ser mantidos?

Löwy - Pode criar uma tendência importante de convergência de jovens, trabalhadores, organizações não-governamentais. Os partidos são mais complicados, pois cada um quer puxar o cobertor para seu lado. Mas, no geral, a luta contra o CPE gerou a politização de toda uma geração, de estudantes e trabalhadores, contra o governo e o sistema capitalista. Palavras de ordem, bandeiras vermelhas.

BF - A convergência pode levar a união das reivindicações e propostas?

Löwy - O objetivo comum foi obrigar o governo a recuar. Propostas alternativas dependem da vontade estratégica das forcas políticas. Espaço para isso, há. Mas, quando se debatem alternativas, sempre surgem diferenças e divisões. Há dois grandes blocos na esquerda francesa, que não desapareceram com as manifestações: um que é anti-liberal e outro, social-liberal.

BF - A união só vai ocorrer se houver uma utopia unificadora.

Löwy - A utopia está presente no movimento, mas pontualmente. Os valores que baseiam a luta são igualdade, solidariedade, democracia, que contém uma alternativa ao capitalismo neoliberal. Mas essa utopia não está formulada realmente. A juventude tem experimentado mais no campo da construção utópica, buscando novas formas de sociedade, revolucionárias.

BF - O governo tem força para reprimir novas insurgências?

Löwy - O interesse do governo é criminalizar o movimento. Reprimiu, com prisões, mas a legitimidade social da luta é evidente. Puxa para si a solidariedade da população.

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