O que a OMC tem a ver com o Nordeste?
Para tentar responder o questionamento, Maité Llanos, da Aliança Social Continental, conta uma história que viu durante uma outra oficina, na Bolívia. "A OMC é isso", falou um boliviano, apontando para um vidro de remédios. "Aqui está o preço caro que pagamos pelo direito de uso de uma propriedade intelectual", explicou. Para Maité, esses exemplos deixam clara a relação entre as regras internacionais de comércio e o dia-a-dia das pessoas.
Outras ligações são buscadas por Edvan Pinto, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). "O fim da proteção agrícola, discutido pelo governo brasileiro na OMC, só beneficia o agronegócio que destrói o meio-ambiente aqui no Nordeste e promove o trabalho degradante das pessoas que conhecemos”.
Edvan cita os pólos nordestinos de desenvolvimento agrícola que beneficiam, segundo ele, apenas os agroexportadores. Não reduziriam a pobreza, por pagar baixos salários, e apenas aumentariam a desigualdade social nos locais. São os centros de fruticultura na região de Petrolina, interior pernambucano, e a Chapada do Apodi, na divisa do Ceará com Rio Grande do Norte.
Os exemplos estimulam perguntas dos participantes, vindos do Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. A maioria de mulheres, algumas trazendo os filhos a tira-colo. "Foi muito interessante porque eram militantes de base", avalia ao fim Maureen Santos, da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip).
Após a oficina, um grupo estende os trabalhos para articular ações na região. "Este Fórum foi o ponto de partida", diz Edvan. "A partir daqui, pretendemos levar o tema para dentro das entidades daqui e preparar uma primeira mobilização contra a OMC no Nordeste". A estréia pode ser já no mês que vem, espera o assessor da CPT. É que nos dias 15 e 16 de maio, a primaveril Viena abrigará uma reunião do Conselho Geral da OMC, em paralelo ao encontro de chefes de estados de União Européia e América Latina. No abafado outono nordestino, mais uma contestação à OMC poderá surgir.