Repressão da PM mineira a movimentos sociais deixa 30 feridos e oito presos


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Polícia reprime manifestação contra cúpula do BID, iniciada no dia 03/04, em Belo Horizonte. Segundo os movimentos sociais, que promovem um evento paralelo ao encontro governamental, a violência policial deixou 30 feridos e oito presos, que, segundo denuncias, sofreram tortura na prisão. (Verena Glass e Rogério Tomaz*)
BELO HORIZONTE – No dia 03/04, no momento em que teve inicio a 47ª Assembléia Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Belo Horizonte, uma manifestação de diversos movimentos sociais foi violentamente reprimida pela polícia militar, deixando, segundo os organizadores do protesto, mais de 30 feridos – 17 estão hospitalizados em estado grave.

Segundo o coordenador nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Joceli Andriolli, o ato pretendia entregar uma carta do 1º Encontro de Movimentos Sociais Mineiros, evento paralelo ao evento do BID, aos delegados governamentais. Ao passar em frente à Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), os manifestantes fizeram um protesto contra o preço da energia elétrica no estado, o que deu início à repressão.

Ainda segundo Andriolli, além de espancar os manifestantes, a PM também destruiu o caminhão de som, o que desorientou os ativistas e aumentou a confusão. Ao final do enfrentamento, que deixou 30 feridos e vários desaparecidos, oito dirigentes foram presos, acusados de depredação do patrimônio público, já que algumas vidraças do prédio da Cemig foram quebradas durante a confusão.

TORTURA
De acordo com o vice-presidente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, deputado Rogério Correia (PT), os dirigentes presos – um do MAB, dois das Ligas Camponesas e cinco do MST, entre eles um garoto de 16 anos – sofreram torturas dentro da prisão.

“Vimos sangue nas celas, e dois dirigentes ainda estavam algemados quando chegamos. Soubemos que eles foram levados individualmente para uma sala e espancados, e até as 18 h a polícia não havia liberado ninguém para o exame de corpo de delito. O menor de 16 anos não sofreu tortura e foi transferido para a delegacia de menores”, afirma o deputado, que vistoriou o local com a comissão de Direitos Humanos da Assembléia.

Ainda pela manhã, organizações de direitos humanos e os movimentos sociais denunciaram o caso ao Ministério Público e às promotorias de Direitos Humanos e Conflitos Agrários. Para o relator nacional para os direitos humanos à alimentação adequada, água e terra rural, Flavio Valente, que está em Belo Horizonte e acompanha o caso, os governos municipal e estadual têm responsabilidade pelo que aconteceu.

"As manifestações contra o BID não são por acaso. O banco está envolvido com o financiamento de projetos que deslocam famílias e violam direitos humanos. Os movimentos sociais têm o direito de se manifestar e apresentar ao banco suas reivindicações, e isso deveria ser do interesse do próprio banco, inclusive. Quando o poder público se nega a oferecer espaços para os movimentos se reunirem e a abrir diálogo com eles, estas situações graves podem ocorrer. E é inaceitável o uso de violência por parte do Estado contra os movimentos sociais, sob qualquer alegação", declara o relator.

Segundo Andriolli, os movimentos, que se reaglutinaram na Assembléia Legislativa, ficam em vigília no local até a liberação dos presos, e promovem, nesta terça (4), um novo protesto contra o BID. De acordo com o deputado Correia, houve um acordo com o delegado de que a soltura ocorreria ainda na segunda, sob pagamento de fiança de R$ 150 por pessoa.

*Rogério Tomaz é assessor de imprensa da ABRANDH
Fonte: www.cartamaior.com.br – 05.04.06

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