Queda de Palocci coloca à prova força popular do presidente


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Na opinião dos professores de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), José Alves Donizeth e Lúcia Avelar, substituição de figura proeminente acentua importância do respaldo popular ao governo do presidente Lula.

BRASÍLIA – A queda de Antonio Palocci do alto do Ministério da Fazenda tem sido o combustível de reiteradas análises que privilegiam diversos aspectos. Há, porém, uma certa canalização de opiniões no sentido do aumento da fragilidade do governo por conta da queda - exacerbada pela desmoralização diante de um personagem como o caseiro Francenildo Santos Costa - de um dos mais importantes escudeiros do presidente.

De acordo com estudiosos entrevistados pela CARTA MAIOR, esse tipo de leitura, bastante disseminada pelos meios de comunicação, se restringe apenas a uma das maneiras possíveis de interpretação dos fatos. Dado como líquido e certo por muitos, o efeito devastador do episódio no respaldo popular do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não encontra eco unânime na opinião dos professores José Alves Donizeth e Lúcia Avelar, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).

Com a substituição de Palocci, observa Donizeth, a oposição conseguiu colocar “mais uma peça importante fora do tabuleiro”. mas a peça principal – equivalente ao rei no jogo de xadrez – continua em pé. “Lula conseguiu crescer em plena crise”, coloca. Para ele, o movimento de retomada da tentativa de impeachment do presidente, engendrado por setores oposicionistas, tem poucas chances de prosperar por causa do comportamento deles próprios em momentos até mais agudos desta crise de denúncias contra o governo. Quando o publicitário Duda Mendonça confirmou ter recebido dinheiro por meio de caixa 2 em contas no exterior, lideranças do PSDB, em particular, ficaram receosas diante da possibilidade da reação popular a um ataque mais frontal à figura de Lula. Com isso, houve um reconhecimento inequívoco da ligação do presidente com as bases, que apenas provou a inserção popular diferenciada do principal mandatário do País. “A oposição perdeu o bonde”, sintetiza o professor da UnB.

Essa postura reticente se configura, segundo o acadêmico, como a extremidade de uma questão de fundo: a elite brasileira “morre de medo” da perpetuação da perda do controle da estrutura do Estado representada pela força popular do presidente Lula. Daí a intensidade e o método adotados pela oposição. A opção pelo denuncismo, entretanto, não é suficiente, pontua Donizeth. “O [governador de São Paulo e candidato tucano à Presidência da República, Geraldo] Alckmin não teve tempo de comemorar a queda de Palocci porque também estava respondendo a denúncias. Irregularidades desse tipo são universais”.

Diretora do Instituto de Ciência Política da UnB, Lúcia Avelar antevê o aproveitamento do denuncismo por parte da oposição até o fim da campanha. “O marketing eleitoral tem muitos recursos”, comenta. Contudo, esse expediente – que explora a imagem das cabeças decepadas, uma a uma, e reforça indiretamente a conotação de “briga pessoal” - ignora, de acordo com ela, forças sociais fundamentais na disputa política. Essa constatação resvala no que Lúcia define como “o grande erro” do governo e do PT: o afastamento em relação a sua base de construção histórica, que agora está sendo colocado à prova.

“O patrimônio ético, além disso, é condição para a representação institucional da eqüidade”, ressalta. A partir do cumprimento à risca da questão ética, discussões fundamentais como a dos gargalos estruturais do Estado poderiam ter avançado mais. “Fala-se muito no tal aparelhamento do Estado pelo PT. Como se o Estado nunca tivesse sido aparelhado por uma determinada classe social”.

Para ela, a sucessão de afastamentos de personalidades proeminentes do governo diminui o potencial de uma virtual reeleição de Lula. “Eleição na democracia é para trocar os governantes. E os eleitores podem apostar em outra pessoa”. Mesmo assim, a professora diz ter dúvidas sobre o resultado desse embate eleitoral implícito entre o certo e o duvidoso. O certo estaria, na análise dela, sendo subestimado. Políticas públicas estão chegando na base social. E se o governo intensificar investimentos de forma consistente, a resposta “pode ser mais efetiva do que essa armação toda”.

Fonte:www.cartamaior.com.br - 29.03.2006

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