Dica Cultural Sindsprev-PE


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A dica cultural dessa semana é uma delação de dez músicas brasileiras que tem como base para tema político. Desde a década de 1930 esse assunto é tema dos compositores nacionais.

A música brasileira é mista e abrange uma variedade de gêneros, ritmos e atravessando gerações. Os compositores tematizaram sobre política de maneira indignada, crítica e persuasiva. O que traz uma característica fundamental para a música e política que é a diversidade de opiniões que compõe uma democracia.

1ª - “Onde Está a Honestidade?” (1933) – Noel Rosa

Logo na primeira metade da década de 1930, a música brasileira versava sobre política. E o título da canção era justamente “Onde está a honestidade?”, um samba de Noel Rosa lançado pelo próprio. A letra não poderia ser mais precisa: “Você tem palacete reluzente/ Tem joias e criados à vontade/ Sem ter nenhuma herança nem parente/ Só anda de automóvel na cidade/ E o povo já pergunta com maldade:/‘ Onde está a honestidade?’”.

2ª - “Se Eu Fosse Getúlio” (1954) – Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti

Em 1954 a palavra “mamata” já estava tão impregnava no dia a dia dos brasileiros que foi parar numa marchinha lançada por Nelson Gonçalves. “Se Eu Fosse Getúlio” ensinava o ditador a solucionar os problemas da nação. A receita era simples, questão de colocar os doutores e funcionários públicos para trabalhar: “Mandava muita loura/ Plantar cenoura/ E muito bonitão/ Plantar feijão/ E essa gente da mamata/ Eu mandava plantar batata!”.

3ª - “Sina de Caboclo” (1964) – João do Vale e J. B. de Aquino

Dez anos depois do suicídio de Getúlio Vargas, o Brasil saía de uma ditadura e entrava em outra. Logo no primeiro ano do período de chumbo, o compositor João do Vale lançou, no espetáculo “Opinião”, a música “Sina de Caboclo”, em que se rebela contra a exploração dos patrões ao trabalhador rural. Gravada por Nara Leão, a canção apresenta, logo no início, versos de força e resistência: “O que eu colho é dividido/ Com quem não planta nada”.

4ª - “Cálice” (1978) – Chico Buarque e Gilberto Gil

O tema religioso perpassa toda a estrutura de “Cálice”. Composta numa Sexta-Feira da Paixão, a lembrança do martírio de Cristo inspirou Gilberto Gil e Chico Buarque a identifica-lo com a situação vivida pelos brasileiros no auge da ditadura militar no país. A melodia acompanha versos que falam de “bebida amarga”, “força bruta”, “monstro da lagoa” e “grito desumano”. Chico e Gil voltaram a interpretar a canção em 2018, no Festival Lula Livre.

5ª - “Coração de Estudante” (1983) – Milton Nascimento e Wagner Tiso

No ano de 1983, Milton Nascimento e Wagner Tiso receberam a missão de criar uma música para o filme “Jango”, sobre a trajetória do presidente João Goulart, deposto pelo regime militar que instaurou a ditadura no país. Por essas e outras foi que “Coração de Estudante” ultrapassou o propósito inicial e serviu como hino pela campanha das “Diretas Já” no ano de 1984, e foi executada no funeral do presidente eleito Tancredo Neves, um ano depois.

6ª - “Inútil” (1985) – Roger Moreira

Com a abertura para a democracia na política brasileira, um novo ritmo tomou conta das paradas de sucesso: o rock. Em São Paulo, se destacou o “Ultraje a Rigor”, liderado pelo vocalista Roger Moreira, autor de “Inútil”. Além de fazer troça com a forma oral de se expressar, ele lançava ácidas críticas à capacidade dos brasileiros de definir os próprios destinos: “A gente não sabemos escolher presidente/ A gente não sabemos tomar conta da gente”.

7ª - “Que País É Este?” (1987) – Renato Russo

O ano de 1987 foi prolífico em canções com referência à política. Nenhuma delas elogiosa. Um dos que estendeu a bandeira foi Renato Russo, vocalista e compositor da Legião Urbana. O protesto tornou-se tão simbólico que é hoje praticamente um ditado popular: “Que País É Este?”. A música aborda de forma direta episódios de corrupção e violência na política nacional: “Ninguém respeita a Constituição/ Mas todos acreditam no futuro da nação”.

8ª - “Cowboy Fora Da Lei” (1987) – Raul Seixas e Cláudio Roberto

Depois de bradar vivas e fundar os preceitos da “Sociedade Alternativa”, além de pregar ensinamentos cósmicos e de rebeldia, Raul Seixas lançou as suas considerações sobre assumir um cargo público. “Cowboy Fora Da Lei”, debocha, logo no início, da forma arcaica e coronelista que fundou grande parte da nossa política: “Mamãe não quero ser prefeito/ Pode ser que eu seja eleito/ E alguém pode querer me assassinar”, canta o “Maluco Beleza”.

9ª - “Brasil” (1988) – Cazuza e George Israel

Bem ao estilo de Cazuza, a música “Brasil” apresenta versos tão sintéticos quanto rascantes: “Brasil, mostra a tua cara!/Quero ver quem paga/Pra gente ficar assim!”. Após enumerar uma série de abusos e privações sofridas pela população brasileira, Cazuza deixa claro que o protesto e a indignação são, na verdade, uma declaração de amor. Lançada pelo compositor em seu álbum “Ideologia”, de 1988, foi regravada por Gal Costa no mesmo ano.

10ª - “Luís Inácio [300 picaretas]” (1995) – Herbert Vianna

No ano de 1993, durante o governo de Itamar Franco, que assumiu o posto de Fernando Collor após o impeachment, o líder do Partido dos Trabalhadores bradou contra escândalos de corrupção já comuns naquela época. A voz era de Lula, homenageado pelos Paralamas do Sucesso na tal música. A expressão “são 300 picaretas com anel de doutor” se tornou célebre. A composição aposta numa letra falada e incisiva, como no rap.

Essa foi a dica cultural dessa semana. Próxima sexta tem mais!

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