Queda na prévia do PIB expõe fragilidades da economia e incapacidade de atuação do governo
Índice que mede a atividade econômica brasileira caiu 1,13% em agosto - © Marcello Casal JrAgência Brasil
A queda no Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), medido pelo Banco Central (BC) é mais um sinal da fragilidade da economia brasileira, que não encontra caminhos para um crescimento à longo prazo com sustentação.
Na avaliação de economistas ouvidos pelo Brasil de Fato, o resultado apresentando pelo BC nesta segunda-feira (17) expõe a ineficiência das medidas adotadas pelo governo, até mesmo aquelas que têm roupagem eleitoreira e poderiam melhorar a popularidade do candidato Jair Bolsonaro (PL).
Em agosto, a atividade econômica brasileira registrou queda de 1,13% na comparação com o mês de julho. Até mesmo quem vislumbrava que o desaquecimento da economia iria voltar a aparecer nos números considerou o índice alto.
Apelidado de "prévia do PIB", o IBC-Br é um mecanismo que busca antecipar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB). O resultado do mês retrasado indica, portanto, retração na produção no período inicial do segundo semestre.
Sem investimento
O economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Daniel Negreiros Conceição explica que o índice pode ser influenciado por fatores que não necessariamente mostram que a economia está mal. Para entender se isso está acontecendo é preciso avaliar também os dados em relação ao ano anterior, por exemplo. Nesse caso a análise mostra que o IBC-Br teve crescimento de 4,86%.
Mas, segundo Negreiros o "tombo" de agosto revela mais que uma oscilação natural influenciada por aspectos sazonais. O resultado expõe que as medidas de Jair Bolsonaro têm efeito limitado pela crise que o próprio governo alimentou.
"Quem ainda está 'puxando' a economia são os serviços, mais reativos às transferências de renda. A indústria está encolhendo. Isso é reflexo da absoluta ausência de estratégia de industrialização dessa governo. Não investem, não fomentam o investimento privado e ainda apertam o crédito pelo lado monetário."
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Negreiros avalia que a queda seria ainda mais expressiva se estivessem em prática as medidas de austeridade defendidas pelo Ministério da Economia desde o início do governo Bolsonaro.
Para ele é natural que os "efeitos multiplicadores" do aumento no Auxílio Brasil e das ações para diminuir os custos dos combustíveis e do gás de cozinha ainda não tenham aparecido totalmente. Mas o resultado inicial das medidas já está na conta e não foi suficiente para aquecer a economia ou gerar qualquer grau de estabilidade.
"Certamente já pegou os efeitos mais diretos do estímulo. Além disso, o Auxílio Brasil mais modesto de 400 reais já existia desde o início do ano, e já exigia flexibilização das regras fiscais, especialmente do teto de gastos. Então segue valendo o argumento de que o que impediu o tombo de ser maior ainda - e o que pode reverter um pouco a tendência contracionista na estimativa de setembro e até o final do ano - é o estímulo fiscal via transferências de renda."
População endividada
O professor de economia da Unicamp, Marco Antonio Rocha, afirma que o governo não apresentou ações que gerem vetores de crescimento a médio e longo prazo e vem se mostrando incapaz de melhorar o cenário também para o curto prazo.
"A economia brasileira apresenta esses breves surtos de crescimento, mas que são logo interrompidos, pelo fato de que a economia brasileira carece de algum vetor mais estrutural que gere crescimento como um todo."
Ele também destaca que o crescimento dos meses anteriores não teve relação com a retomada nas atividades de setores que poderiam influenciar resultados mais sustentáveis. "As altas anteriores estavam sendo puxadas pelo setor de serviços que não é um setor com muita capacidade de sustentar um ciclo de crescimento por muito tempo."
O professor lembra que uma parte significativa da renda das famílias está comprometida com dívidas e pagamentos obrigatórios. Com índices recordes de endividamento e uma população que ainda tenta respirar depois de altas consideráveis na inflação, as soluções apresentadas pelo governo federal têm poucas chances de trazer efeitos significativos.
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"Qualquer retomada no curto prazo passa, de certa forma, pelo consumo das famílias. Ainda que tenha havido algumas medidas para injetar recursos nas pontas, a gente tem que lembrar que o nível de endividamento das famílias brasileiras está muito alto."
As oscilações do IBC-Br confirmam a instabilidade da economia. Em junho e julho houve crescimento, mas tanto abril quanto maio registraram queda. O "tombo" de agosto foi o mais expressivo para um mês desde março do ano passado, quando o Brasil vivia um dos momentos mais dramáticos da pandemia da covid-19.
Edição: Nicolau Soares
Fonte: Brasil de Fato SP