Bancos de sementes crioulas valorizam memória e impulsionam produção sem transgênicos
Reportagem de Rodolfo Rodrigo / Brasil de Fato - PE
Conviver com o Semiárido demanda diversas estratégias ligadas à realidade de cada local para plantar e ter acesso a uma alimentação saudável. Entre as estratégias, existe o armazenamento e a troca das sementes crioulas através dos bancos de sementes. Para Luciano Silveira, agricultor e membro da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, “Quando a gente fala de sementes crioulas, estamos falando de sementes tradicionais, ou seja, que remonta a própria história da agricultura" afirma.
Quem guarda e seleciona os grãos são chamados de guardiões de sementes. Eles fazem a coleta, armazenam e cuidam da multiplicação delas e são nas casas de sementes comunitárias onde acontece a troca e a conservação das variedades. É lá que a ação dos guardiões e guardiãs ganha força para resistir às constantes ameaças à conservação e uso sustentável da agrobiodiversidade.
Leia: Saiba o que é semente crioula e entenda a sua importância
Depois de anos sendo multiplicadas, plantadas e gerando novos frutos, as comunidades passaram a criar vínculos com a prática dos bancos e chamar as sementes crioulas “de sementes da paixão”, além de construir encontros para compartilhar sementes e dicas de plantio e conservação.
Euzébio Cavalcanti coordena a Rede de Casas de Sementes da Paixão no município de Remígio, interior da Paraíba.“O banco de sementes comunitário funciona da seguinte forma: a família renova as sementes todo ano quando ela planta. Então, a família que necessita de uma semente vai lá no banco e pega emprestado uma quantidade". A ideia é sempre devolver uma montante maior do que o empréstimo, para que os estoques sempre estejam renovados.
Leia: Por que um casal de agricultores viajou mais de 10 mil km de bicicleta em busca de sementes?
A metodologia de doação e cuidado se propaga através das diversas variedades de cereais e leguminosas também na Casa de Sementes Comunitária organizada pela guardiã Teresinha Batista. “São várias variedades que eu tenho minha responsabilidade por elas, não pensando em mim, mas pensando no próximo, nos vizinhos e nas pessoas que vierem me procurar. Aqui, cada um tem voz de vir aqui no banco e sair com a semente pra plantar, se algum agricultor tiver faltando”
A iniciativa tem se espalhado. De acordo com o Portal Semear, no total, são 83 bancos de sementes comunitários em 14 municípios da Paraíba. Quem deseja mais informações sobre o assunto pode entrar em contato com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia através do e-mail aspta@aspta.org.br.